01
- Qual foi o seu primeiro contato com a literatura de Cordel?
GD - Ouvi os primeiros
versos dos repentistas, aboadores e cordelistas(ao vivo) por
volta dos 3 anos. Fui literalmente alfabetizado no cordel
e na Bíblia, lá no povoado de Recife dos Cardosos, na Chapada
Diamantina Setentrional-Bahia. Fazia leituras e improvisos
nas feiras, nas portas das igrejas e nas vendas(botecos) da
Região de Irecê/Ibititá. Ouvia muito rádio, meu pai era aficcionado
ouvinte.O rádio era o grande veículo daquele tempo, mais ainda
no interior. Ouvia-se a Rádio Sociedade da Bahia, Sociedade
de Feira de Santana, Rádio Clube de Pernambuco, Rádio Nacional,
Globo, Excelsior, Eldorado, Tupi e tantas outras eram ouvidas
pelos sertanejos. Pura cultura oral, notícia e música de qualidade
Anos de ouro.. De vez em quando se ouvia a Rádio de Moscou,
de Havana, BBC e a Voz da América, que divulgava outras culturas.
O forte era a cultura de ouvido e do boca-a boca. As pessoas
conversavam mais.Contavam histórias, causos, piadas e anedotas.
Não tinha a concorrência da televisão e do computador.
O Repente e o Cordel era divulgado com freqüência: pelejas,
desafios, emboladas, mourões, martelos se ouvia ao vivo e
nas rádios do Norte-Nordeste e até do Rio e de São Paulo.
A cultura oral e a poesia popular, o cordel, o repente, os
causos, as estórias eram lugar-comum. Vivíamos uma quase Idade
Média em plena Idade Mídia...
02
- Quais os seus mestres no Cordel?
GD - Leandro Gomes de
Barros, Antônio Frederico de Castro Alves, Cuíca de Santo
Amaro da Bahia, Zé de Duquinha, João Martins de Athayde, Rodolfo
Coelho Cavalcante, Patativa do Assaré, Aderaldo Ferreira Araújo(Cego
Aderaldo), Ascenso Ferreira, Zé da Luz, Silvino Pirauá de
Lima, Manuel D'Almeida Filho, Rogaciano Leite, Juvenal Galeno,
Francisco Chagas Batista, Francisco Sales Areda, Manoel Camilo
dos Santos, Minelvino Francisco da Silva, Caetano Cosme da
Silva, João Melquíades Ferreira da Silva, Teodoro Ferraz da
Câmara, João Ferereira de Lima, José Pacheco, Severino Gonçalves,
Galdino Silva, João de Cristo Rei, Antônio Batista, Laurindo
Gomes Maciel, Manuel Pereira Sobrinho, Antônio Eugênio da
Silva, Augusto Laurindo Alves(Cotinguiba), Moisés Matias de
Moura, Pacífico Pacato Cordeiro Manso, José Bernardo da Silva,
Apolônio Alves dos Santos, Orlando Tejo/Zé Limeira, Elias
A. de Carvalho, Manoel Monteiro, Raimundo Santa Helena, João
Lucas Evangelista, Edenivaldo Alves Dourado(Rota), Machado
Nordestino, J. Borges, Abrãao Batista, Joaquim Batista de
Sena, José Camelo de Melo Resende, Expedito Sebastião da Silva,
Firmino Teixeira do Amaral, Severino Milanês da Silva, Hermes
Vieira, José João dos Santos Azulão, Gonçalo Ferreira da Silva,
José Costa Leite, Pedro Bandeira, Zé Praxedes, Carolino Leobas,
Paulo Nunes Batista, Zé Menino, Antônio Guedes, José Guedes,
Manoel Guedes, Delarme Monteiro, Severino Borges, João José
da Silva e tantos outros...De vez em quando também apareciam
mulheres cordelistas como Francisca Barrosa, Lourdes Ramalho,
Maria da Piedade e Tindinha Laurentino...
03
- Vc busca uma temática diferenciada em seus cordéis ou um
cordelista tem q ter munição pra qualquer parada?
GD - Tem que ter munição
para qualquer parada e também buscar uma temática mais diferenciada.
No meu caso vou do erudito ao popular e vice-versa. Vim das
raízes do cordel e do baião. Da raiz da cultura popular. Gosto
dos clássicos e dos grandes poetas de todos os tempos, sem
esquecer os inventivos, criadores e experimentais, que vai
dos provençais a Mallarmé e Pound, de Camóes a Pessoa, de
Gregório de Matos a Castro Alves, de Cruz e Souza a Augusto
dos Anjos, de Mário Faustino a Mário Quintana, de Torquato
Neto a Paulo Leminski, Cabral, Bandeira, Drummond, Oswald,
Mário, Vinícius, Murlio Mendes, Jorge de Lima, Cecília Meireles,
Cora Coralina, Gullar, Gomringer, Queneau, Irmãos Campos,
Pound, Rimbaud, Baudelaire, Joyce, Apollinaire, Whitman, Shakespeare,
Manoel de Barros, Dante, Maiacoviski, poetas russos e franceses,
entre outros. Sem esquecer os grandes compositores poetas
como Catulo da Paixão Cearense, Luiz Gonzaga, Cartola, Noel
Rosa, Ismael Silva, Wilson Batista, Gilberto Gil, Caetano
Veloso e Chico Buarque de Hollanda. Não podemos esquecer dos
grandes poeta repentistas, muito deses cordelistas como Otacílio
Batista, Ivanildo Vilanova, os Irmãos Bandeira, os Irmãos
Batista e Oliveira de Panelas.
Tem também os novos cantadores e cordelistas que surgem a
cada dia.
04
- Existe vários tipos de rimas, estilos, formatação, no Cordel.
Vc poderia falar sobre alguns tópicos do Cordel e quais os
recursos e vc mais usa?
GD - O cordel é bastante
variado e multifacetado. Tem vários tipos de rima. A mais
tradicional e mais usada é a sextilha. É comum o uso da septilha,
da oitava e da décima.
Alguns autores usam o gabinete, o martelo, o mourão, a parcela,
o oitavão rebatido, o quadrão, meia quadra, e o gabinete.
Os mais experimentados conhecem e utilizam os decassílabos,
dez pés, ligeira, o martelo agalopado, o martelo alagoano,
o galope a beira mar e experimentam o soneto e outras modalidades.
05
- Há alguma diferença em fazer Cordel numa cidade grande?
GD - A diferença é apenas
do ambiente cultural. A cidade oferece mais condições e oportunidades
para o poeta cordelista se preparar e ampliar o seu conhecimento.
Têm livrarias, bibliotecas, discotecas, computadores.
No fundo o que mais conta é a inspiração que é importante
e a transpiração que é fundamental. Poeta que é poeta faz
poesia em qualquer lugar. O que problematiza é a divulgação
e o meio cultural. Poucos querem editar o cordel. A mídia
urbana é muito eletista e segregacionista.Se prende muito
ao besteirol e à indústria cultural e aos enlatados. Raros
divulgam a cultura popular de raiz, com exceção do samba.
No Sertão é mais propício para as cantorias e a divulgação
do cordel tradicional. Têm as feiras, as quitandas e um ambiente
já formado por apreciadores do cordel e de uma boa cantoria
de viola. Na cidade grande a concorrência é muito grande com
os grupos de rock, sertanejo, pop, axé, brega, funk, rave,
tecno, samba, pagode e tantas outras modalidades culturais.
Se bem que hoje com a TV e a Internet esté tudo meio parecido
e padronizado. A Internet tem sido o grande veículo para os
novos cordelistas, principalmente para aqueles como eu que
têm dificuldade de acesso às editoras e mídias convencionais.
Espero que não demore muito a conseguir um bom espaço para
também publicar os meus folhetos e divulgá-los junto aos leitores
tradicionais. Enquanto isso vou divulgando pela nossa Internet
de cada dia. Espero e penso que esse dia não demorará muito
a chegar.Tomara que as futuras gerações de editores sejam
mais sensíveis e publiquem com mais freqüência a boa poesia
popular.