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ENTREVISTAS



Gustavo Dourado em entrevista a Edson Cruz

01 - Qual foi o seu primeiro contato com a literatura de Cordel?
GD - Ouvi os primeiros versos dos repentistas, aboadores e cordelistas(ao vivo) por volta dos 3 anos. Fui literalmente alfabetizado no cordel e na Bíblia, lá no povoado de Recife dos Cardosos, na Chapada Diamantina Setentrional-Bahia. Fazia leituras e improvisos nas feiras, nas portas das igrejas e nas vendas(botecos) da Região de Irecê/Ibititá. Ouvia muito rádio, meu pai era aficcionado ouvinte.O rádio era o grande veículo daquele tempo, mais ainda no interior. Ouvia-se a Rádio Sociedade da Bahia, Sociedade de Feira de Santana, Rádio Clube de Pernambuco, Rádio Nacional, Globo, Excelsior, Eldorado, Tupi e tantas outras eram ouvidas pelos sertanejos. Pura cultura oral, notícia e música de qualidade Anos de ouro.. De vez em quando se ouvia a Rádio de Moscou, de Havana, BBC e a Voz da América, que divulgava outras culturas. O forte era a cultura de ouvido e do boca-a boca. As pessoas conversavam mais.Contavam histórias, causos, piadas e anedotas. Não tinha a concorrência da televisão e do computador.
O Repente e o Cordel era divulgado com freqüência: pelejas, desafios, emboladas, mourões, martelos se ouvia ao vivo e nas rádios do Norte-Nordeste e até do Rio e de São Paulo.
A cultura oral e a poesia popular, o cordel, o repente, os causos, as estórias eram lugar-comum. Vivíamos uma quase Idade Média em plena Idade Mídia...
02 - Quais os seus mestres no Cordel?
GD - Leandro Gomes de Barros, Antônio Frederico de Castro Alves, Cuíca de Santo Amaro da Bahia, Zé de Duquinha, João Martins de Athayde, Rodolfo Coelho Cavalcante, Patativa do Assaré, Aderaldo Ferreira Araújo(Cego Aderaldo), Ascenso Ferreira, Zé da Luz, Silvino Pirauá de Lima, Manuel D'Almeida Filho, Rogaciano Leite, Juvenal Galeno, Francisco Chagas Batista, Francisco Sales Areda, Manoel Camilo dos Santos, Minelvino Francisco da Silva, Caetano Cosme da Silva, João Melquíades Ferreira da Silva, Teodoro Ferraz da Câmara, João Ferereira de Lima, José Pacheco, Severino Gonçalves, Galdino Silva, João de Cristo Rei, Antônio Batista, Laurindo Gomes Maciel, Manuel Pereira Sobrinho, Antônio Eugênio da Silva, Augusto Laurindo Alves(Cotinguiba), Moisés Matias de Moura, Pacífico Pacato Cordeiro Manso, José Bernardo da Silva, Apolônio Alves dos Santos, Orlando Tejo/Zé Limeira, Elias A. de Carvalho, Manoel Monteiro, Raimundo Santa Helena, João Lucas Evangelista, Edenivaldo Alves Dourado(Rota), Machado Nordestino, J. Borges, Abrãao Batista, Joaquim Batista de Sena, José Camelo de Melo Resende, Expedito Sebastião da Silva, Firmino Teixeira do Amaral, Severino Milanês da Silva, Hermes Vieira, José João dos Santos Azulão, Gonçalo Ferreira da Silva, José Costa Leite, Pedro Bandeira, Zé Praxedes, Carolino Leobas, Paulo Nunes Batista, Zé Menino, Antônio Guedes, José Guedes, Manoel Guedes, Delarme Monteiro, Severino Borges, João José da Silva e tantos outros...De vez em quando também apareciam mulheres cordelistas como Francisca Barrosa, Lourdes Ramalho, Maria da Piedade e Tindinha Laurentino...
03 - Vc busca uma temática diferenciada em seus cordéis ou um cordelista tem q ter munição pra qualquer parada?
GD - Tem que ter munição para qualquer parada e também buscar uma temática mais diferenciada. No meu caso vou do erudito ao popular e vice-versa. Vim das raízes do cordel e do baião. Da raiz da cultura popular. Gosto dos clássicos e dos grandes poetas de todos os tempos, sem esquecer os inventivos, criadores e experimentais, que vai dos provençais a Mallarmé e Pound, de Camóes a Pessoa, de Gregório de Matos a Castro Alves, de Cruz e Souza a Augusto dos Anjos, de Mário Faustino a Mário Quintana, de Torquato Neto a Paulo Leminski, Cabral, Bandeira, Drummond, Oswald, Mário, Vinícius, Murlio Mendes, Jorge de Lima, Cecília Meireles, Cora Coralina, Gullar, Gomringer, Queneau, Irmãos Campos, Pound, Rimbaud, Baudelaire, Joyce, Apollinaire, Whitman, Shakespeare, Manoel de Barros, Dante, Maiacoviski, poetas russos e franceses, entre outros. Sem esquecer os grandes compositores poetas como Catulo da Paixão Cearense, Luiz Gonzaga, Cartola, Noel Rosa, Ismael Silva, Wilson Batista, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque de Hollanda. Não podemos esquecer dos grandes poeta repentistas, muito deses cordelistas como Otacílio Batista, Ivanildo Vilanova, os Irmãos Bandeira, os Irmãos Batista e Oliveira de Panelas.
Tem também os novos cantadores e cordelistas que surgem a cada dia.
04 - Existe vários tipos de rimas, estilos, formatação, no Cordel. Vc poderia falar sobre alguns tópicos do Cordel e quais os recursos e vc mais usa?
GD - O cordel é bastante variado e multifacetado. Tem vários tipos de rima. A mais tradicional e mais usada é a sextilha. É comum o uso da septilha, da oitava e da décima.
Alguns autores usam o gabinete, o martelo, o mourão, a parcela, o oitavão rebatido, o quadrão, meia quadra, e o gabinete. Os mais experimentados conhecem e utilizam os decassílabos, dez pés, ligeira, o martelo agalopado, o martelo alagoano, o galope a beira mar e experimentam o soneto e outras modalidades.
05 - Há alguma diferença em fazer Cordel numa cidade grande?
GD - A diferença é apenas do ambiente cultural. A cidade oferece mais condições e oportunidades para o poeta cordelista se preparar e ampliar o seu conhecimento. Têm livrarias, bibliotecas, discotecas, computadores.
No fundo o que mais conta é a inspiração que é importante e a transpiração que é fundamental. Poeta que é poeta faz poesia em qualquer lugar. O que problematiza é a divulgação e o meio cultural. Poucos querem editar o cordel. A mídia urbana é muito eletista e segregacionista.Se prende muito ao besteirol e à indústria cultural e aos enlatados. Raros divulgam a cultura popular de raiz, com exceção do samba. No Sertão é mais propício para as cantorias e a divulgação do cordel tradicional. Têm as feiras, as quitandas e um ambiente já formado por apreciadores do cordel e de uma boa cantoria de viola. Na cidade grande a concorrência é muito grande com os grupos de rock, sertanejo, pop, axé, brega, funk, rave, tecno, samba, pagode e tantas outras modalidades culturais. Se bem que hoje com a TV e a Internet esté tudo meio parecido e padronizado. A Internet tem sido o grande veículo para os novos cordelistas, principalmente para aqueles como eu que têm dificuldade de acesso às editoras e mídias convencionais. Espero que não demore muito a conseguir um bom espaço para também publicar os meus folhetos e divulgá-los junto aos leitores tradicionais. Enquanto isso vou divulgando pela nossa Internet de cada dia. Espero e penso que esse dia não demorará muito a chegar.Tomara que as futuras gerações de editores sejam mais sensíveis e publiquem com mais freqüência a boa poesia popular.

Homenagem ao Mestre Pixinguinha:
http://www.camarabrasileira.com/cordel3.htm

Ver entrevista para tese de doutorado sobre cordel na Universidade Federal da Paraíba:
http://www.triplov.com/poesia/gustavo_dourado/prosas/entrevista_01.htm

Mais informações nos sites:
http://www.gustavodourado.com.br/
http://www.gustavodourado.com.br/cordel.htm
http://www.cronopios.com.br/site/colunistas.asp?id_usuario=32
http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=80
http://www.secrel.com.br/jpoesia/gustavodourado.html

 

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