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ENTREVISTAS



Entrevista do escritor Gustavo Dourado a Roberta Tavares

Roberta - Quais são os processos (todos) de publicação de uma obra literária?
GD - Temos vários processos: que vai desde o livro tradicional ao livro alternativo, do livro eletrônico ao cd-rom, do folheto de cordel tipográfico ao livro de luxo. O destaque ainda é para o livro no formato publicado pelas editoras/gráficas no padrão estabelecido pela Unesco, a partir de um fotolito. Novos formatos virão com a evolução do computador e das novas tecnologias e técnicas de edição e editoração.
Roberta - Por que há tantas dificuldades em se publicar um livro?
GD - O Papel é muito caro e os custos também são muito altos. A edição já é um processo difícil e que é agravado pela custosa divulgação e dolorosa distribuição. Há não ser que se publique por uma grande editora, que tenha esquema publicitário e midiático. Há também o grande desinteresse do Estado e dos empresários em promover a cultura, principalmente o livro. Para eles quanto mais ignorante o povo, mais fácil fica governar. A prioridade é para a televisão, novela, big brothers e outras quinquilharias alienativas. O analfabetismo é lucrativo para a nossa burguesia medíocre e escravocrata...Livro para quê? Livro bom: liberta, alerta, desenvolve o cidadão, provoca a reflexão e o questionamento... O Brasil é um grande Haiti...Uma África com requintes de Índia e Bangladesh e pitadas de Iraque e Afeganistão... e muita vontade de ser americano ou europeu... veja os estrangeirismos em todos os lugares...é um ultraje...
Roberta - As dificuldades estão associadas aos patrocinadores, preço do papel falta de interesse das editoras?
GD - Os três aspectos são preponderantes. Quase não se tem patrocínio para o livro, a não ser o livro didático, o infantil e o infanto-juvenil, com venda já garantida por meio da adoção nas escolas. Os empresários só investem onde sabem que vão ter lucros certos. A Poesia raramente é patrocinada.
Roberta - Como são feitas as distribuições dos livros?
GD - Pelas distribuidoras estabelecidas no eixo – Rio – Sampa, em livrarias, universidades, escolas, bancas de revistas e agora também pela Internet. Elas só distribuem o livro didático e o livro publicado pelas grandes editoras. Os pequenos editores e os escritores alternativos e independentes praticamente não são distribuídos e tornam-se malditos e marginalizados e excluídos do mercado e da mídia editorial jornalística e eletrônica. Poesia não se distribui...

O livro do escritor brasiliense...

Não tem distribuição. Brasília não tem editoras e não conta com distribuidoras locais, nem com distribuição para outros estados. O autor local é marginalizado e excluído pelas grandes editoras, livrarias e pela mídia. O autor consegue distribuir nos lançamentos e nos contatos com os amigos e colegas de trabalho. Os jornais ignoram os autores locais,... só alguns são beneficiados...os não-críticos, de literatura açucarada...um ou outro é que consegue... a não ser uma meia dúzia que são amigos dos editores, redatores e diretores dos jornais e telejornais. .São os mesmos de sempre que aparecem...os políticos e os mais aquinhoados economicamente ou que jamais incomodam o Sistema e o establishment, os bem –comportados e que rezam com fervor a cartilha do poder...
Roberta - Os lucros, para onde vão? Quem fica com a maior parte?
GD - Os lucros são divididos entre as grandes editoras e distribuidoras, que vivem nas tetas do Estado, por meio dos livros didáticos, geralmente alienativos e que deturpam a realidade dos fatos...Muitos também lucram com os livros infantis, infanto-juvenis, best-sellers etc...Claro que há as exceções e os bem intencionados, com certeza, mas é uma raridade...são muito poucos...
Ah...Poesia...ninguém quer saber de Poesia...a não ser a poesia dos autores canônicos e consagrados, de preferência que já estejam mortos.
Roberta - Por que os editores não se preocupam por pequenas produções?
GD - Não dá lucro...O editor é antes de tudo um empresário, um capitalista...ele quer o lucro antes de tudo...se não dá lucro ele não arrisca...é a lei perversa do mercado...
Roberta - Quais são as principais editoras de BSB? Os trabalhos desenvolvidos são os mesmos?
GD - Brasília não tem editoras...tem algumas subsidiárias/filiais que funcionam como editoras distribuidoras e que sobrevivem das publicações de livros didáticos patrocinados pelo Estado e pelas corporações. Temos centenas de gráficas, mas não conheço uma que tenha algum contrato editorial com algo escritor genuinamente brasiliense. Talvez a Editora da UnB tenha algum tipo de contrato, desconfio.. Só que quase não publica ficção e praticamente nada de autores locais, que não seja seus professores.
Roberta - Relate sua(s) opinião(ões) a respeito de como publicar em BSB?
GD - Se tiver dinheiro ou influência política e acadêmica dá para publicar aqui e em qualquer lugar...o problema é a distribuição e a divulgação...As grandes livrarias de Rede, não aceitam livros de escritores brasilienses, ...é muito raro encontrar um livro de um escritor do DF nas livrarias.. existe.um Apartheid, uma cruel exclusão...Temos raríssimas exceções...e a algumas experiências relevantes.
Roberta - Relate sua(s) crítica(s) a respeito de como publicar em BSB?
GD - Publicar em Brasília para quem não tem recurso e mídia é um martírio. É uma via-crucis. É terrível.
Não temos editoras...as gráficas dizem que editam...rsss...O autor fica jogado para escanteio. Paga para editar e não consegue distribuir e divulgar, não tem patrocínio e publicidade para o jabaculelê......É um exílio em sua própria terra...A Imprensa de Brasília é provinciana e dependente da mídia do Eixo...Quem sabe um dia? Talvez a coisa mude... O tempo dirá...
Roberta - Vc já passou por alguma situação constrangedora de como publicar uma obra (já recebeu muitos "não vou publicar seu livro, isso não é do nosso interesse")?
GD - Várias vezes...ninguém quer saber de Poesia, a não ser que você publique por conta própria.Tem que pagar.
Roberta - Qual foi a sua reação?
GD - Todos ficam aborrecidos. Afinal vivemos no Brasil, onde o analfabetismo dá lucro. Já que até Presidente não precisa de diploma , para que estudar, para que ler ...é melhor se político, modelo ou jogador de futebol...não é verdade?!
Roberta - Qual é a sensação ao ver uma obra literária estar nas principais livrarias?
GD - Deve ser muito bom...rsss...principalmente quando se vende...
Roberta - Qual é o valor estimado na publicação?
GD - Depende do livro que se publica, formato, aspecto gráfico, diagramação, cores etc. Um livro de 100 páginas e de tiragem de mil exemplares não fica por menos de 5 mil reais, a não ser que tenha patrocínio...poucos conseguem...Só os eleitos...
Roberta - CASO TENHA ESQUECIDO DE ALGO QUE QUEIRA COMENTAR, FAVOR MENCIONAR
GD - Há o grande desrespeito aos direitos autorais. Torna-se necessário criar uma rede de bibliotecas públicas, comunitárias e escolares de bom nível e desenvolver programas literários nas escolas e campanhas de popularização do livro...é preciso investimento em educação e cultura...É preciso criar o Instituto do Livro e incentivar a leitura.
Roberta - GOSTARIA QUE VC ME ENVIASSE NO MÍNIMO TRÊS CONHECIDOS QUE JÁ PASSARAM E/OU ESTÃO PASSANDO PELA SITUAÇÃO.
GD - Praticamente todos os escritores brasilienses passam por extremas dificuldades para publicar, distribuir e divulgar o livro. Cito vários: Alan Viggiano, Meireluce Fernandes, Alceu Brito, Murilo Veras, Rômulo Marinho, Áureo Mello e Marineide Miranda. Depois de tudo, ainda tem a exclusão da mídia, das editoras, distribuidoras e das grandes livrarias. É preciso ser paciente e persistente...Um dia a coisa vai mudar...

 

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