Renovação
Carismática Poética
(por José Aloise Bahia)
"que
venha o silêncio da orgia / silêncio da harmonia / estrondoso
barulho / dos silenciados" (Renato Negrão).
Revisar poemas tem um nome: Renovação Carismática Poética. Trocando-se
o padre por uma pessoa com uma mente aberta e imaginativa, que
gosta de música, e expele carros de bombeiros pela boca, o resultado
só pode ser: Os Dois Primeiros e um Vago Lote (Selo Edições, Belo
Horizonte, 2004).
Alguém pode pensar numa boca escancarada cheia de dentes, esperando
os versos chegar. Entretanto, a metamorfose ambulante é mais embaixo.
E o lote vago tem um tom vermelho cordiforme. Sem cercas ou muros,
"apostando numa tola, atolando numa lama", sob os olhares de Chacal
e Jorge Mautner, e transitando de bicicleta, em direção
ao mar, o fardo é mais leve. Tal qual a espada samurai, o poeta
mineiro Renato Negrão em sua trilha e movimentos melódicos,
e com "toda visão e tato olfato e audição" em alertas, chega decepando
tudo e afirma: "que bom / ser contemporâneo seu / assim você /
não precisa / atravessar paredes / nem eu".
A bebida do padre é o vinho. A do poeta, absinto. Aliás, como
Rimbaud, absinto regado à poesia: "mais uma dose de poesia / para
aliviar a dor / da desilusão de cada dia / nuvem cinza que esconde
o sol do amor". Eis o plano de saúde confiável: letal contra qualquer
tipo de poison existente na atmosfera. Eis o tônico benéfico:
sem contra-indicação. A posologia diária, uma vitamina criativa
com sinais, ritmos e a versatilidade das composições, pontuada
por um saudável desejo, a poesia em seu estado de comunhão: "te
abraço como quem vai pro mar / te beijo como quem bebe o sol".
Uma grande pedida para este Natal é uma visita ao "dragão do paraíso"
(www.armenguepress.blogger.com.br).
Um passeio pelo blog da nova safra de escritores mineiros. E o
principal: a poesia de Renato Negrão com suas palavras
quentes de silêncio, frias de calor e temperadas pelo encontro.
Um rencontre fértil entre o nascimento e uma estrela cadente.
Que no seu vôo silencioso escolhe um lote vago à procura de um
leitor.
* José Aloise Bahia (Belo Horizonte/MG) é jornalista, ensaísta,
cronista, escritor e poeta. Graduado em comunicação social e pós-graduado
em jornalismo contemporâneo. Autor de Pavios Curtos (no prelo
pela anomelivros). josealoise@aol.com
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