População
em risco
(por Vânia Moreira Diniz)
Enquanto algumas recordações se impunham
em meio ao turbilhão de sonhos descontrolados pude analisar minuciosamente
minha terra natal, o Rio de janeiro e sentar-me docemente perto
da praia aspirando a marisia , odor particular do mar que desde
a minha infância me acompanha com intimidade.
Lentamente a brisa que sopra e também tão conhecida fazia com
que meus pensamentos se dirijissem a cenas particularmente doces
e encantadoras que constituíram minha infância e adolescência.
E a beleza natural que talvez eu nem prestasse atenção na época,
me dá aquela saudade dos lugares em que cresci.
Tudo hoje é diferente e embora a fascinação e o feitiço maravilhoso
transbordem em cada uma de suas esquinas, eu lamento que a violência,
a pior espécie de guerra, esteja dominando as ruas e vicejando
dolorosamente, fazendo com que pessoas inocentes sejam atingidas
e a fome e a miséria ainda mais permaneçam em cada trecho da cidade.
Será que os nossos dirigentes ainda não compreenderam que a falta
de emprego e condições adequadas está transformando a cidade tristemente
nesse campo de batalha?
Será que realmente não dá para que os que governam a cidade esqueçam
seu egocentrismo, individualismo, vaidade ou luta por um poder
ainda maior, e lembrem que o cidadão carioca está precisando de
sua proteção e das promessas não concretizadas?
Claro que como sempre digo, gostaria de estar tratando de minha
literatura, convicta de que o governo estaria cumprindo seu dever.
E não deixasse que os bandidos se tornassem famosos, o que faz
com que eles se julguem superiores e intocáveis enquanto maltratam
e trucidam as pessoas de bem, que precisam trabalhar e que lutam
para dar às suas famílias e ao país condições dignas e honradas.
A verdade é que onde o estado encolhe, o bandido domina. Isso
quer dizer que nesses lugares faltam hospitais, postos de saúde
, postos policiais, centro de treinamento e desenvolvimento de
pessoas como o SESC , SENAI e SESI, organizações que tem demonstrado
eficiência nas suas respectivas áreas e apesar de serem organizações
privadas vivem com recursos advindos da folha de pagamento dos
trabalhadores, não seriam também recursos públicos dada a sua
compusoriedade de recolhimento?
Claro que as pessoas que cuidam dos Direitos humanos tem que proteger
os indivíduos que se encontram presos ou recolhidos em presídio
e que não podem ser vítimas de vinganças ou maus tratos. Mas porque
não protegem também e gritam pelos direitos dos trabalhadores
honestos que carecem de proteção e que se arriscam permanentemente
enquanto lutam pela sobrevivência? Porque só lembram dos algozes
e nunca das vítimas?
Tristemente parece que nos acostumamos com a visão da truculência
e quando ela é repetida já não nos traz a emoção que deveria.
E então presenciamos a descrição de cenas que nem uma guerra é
capaz de conter e sem aquela revolta que nos moveu nos primeiros
tempos.
Mas a verdade é que precisamos reagir e urgentemente. Gritar,
pedir, demonstrar nossa dor, unirmos nossos esforços implorando
que os mandatários dos governos, especialmente das cidades mais
afrontadas tomem uma providência. Estamos cansados de reuniões,
de esperas, de aconselhamentos, de palavras bonitas ou relaxantes
que não levam a nada, de ver os dirigentes viajarem e serem considerados
“maravilhosos”, o que queremos é que eles sejam eficazes dentro
de nosso país, em momentos que já se tornaram corriqueiros de
atrocidades e barbárie, pondo em risco a vida e o bem estar de
nossa população.
Espero assim que o estado em cumprimento a preceitos constitucionais
promova e assegure segurança, saúde e educação. Isso é o primordial.
Enquanto admiro o horizonte , penso que a esperança não pode ter
ido embora, que a fé deve continuar firme e consistente enquanto
nos conscientizamos que em nossos direitos à cidadania se inclui,
exigir que possamos todos nós caminhar com segurança pelas ruas
de nossas cidades, admirando, estudando, trabalhando , lutando
para o crescimento do Brasil e nos sacrificando mas acreditando
na lucidez daqueles que foram eleitos para pensar no povo.
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