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Poemas de Maria Félix Fontele

 

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Poemas de Gustavo Fontele Dourado


Poemas de Maria Félix Fontele

Ilusão na Catedral

Homens e mulheres
fustigados com o
açoite do vento
flutuavam na direção
de uma luz estelar,
como os anjos da Catedral.
Sonolentos,
rostos sonolentos,
rogavam ao banho
da claridade
como náufragos ávidos
por terra firme.
A luz, tênue pupila
a deslizar entre as
nuvens, era apenas o
espectro de seus olhos.


Canção para o silêncio

Todas as manhãs
quando acordava
ele compunha
uma fresta de luz
para o silêncio.
A fresta era o instrumento
o silêncio, o ouvinte
Ficavam assim
enternecidos
O homem
A fresta
O silêncio.
À noite,
o silêncio ensurdecia
Não havia fresta
O homem dormia.


Rosa-louca

É primavera
e meu coração
sangra.
A rosa-louca,
antes de mudar
de cor, despetalou-se,
esvaiu-se.
Sobre suas pétalas
no chão vermelho
alfombrado
passam meninos nus,
sem teto (anjos anódinos)
fugindo da chuva.
É primavera
e meu coração sangra
mutilado pela febre
da emoção.


Elogio à dor

A dor tem os passos lentos
de um velhinho cansado.
Pisa-nos devagarinho.
A idade da dor
é a dor do ser.
Não há novidades
quando a sentimos.
Só sofrimento.
E lembramos de
Jesus crucificado
a sofrer por nós.
A dor faz crescer
A prova é o nascimento.
Há dores fundamentais
de amor, de ir e vir.


Casa da paixão

Quando a noite vence o dia
o luar repousa a face nua
sobre o leito da casa vã.
E os amantes festejam
entre lençóis atravessados.
A noite é o início do sonho.
É a necessidade mais urgente
do fogo.
Quando o dia vence a noite
a casa da paixão consumida
é só cinzas.
As cinzas espalham-se
uma parte junta-se ao Éter.
A outra, ao chão.


RETRATO

Vejo-te fragmentado
no canto noturno da sala
A recompor pedaços da vida
A tecer o tempo com o fio
de tua membrana fria

Lá no fundo!
No limiar da arte
Estão meus avós, antepassados,
amores perdidos na curva
da estrada
Restos presos ao papel

Então vislumbro casarões
Velhos casarões empoados
Escravos das noites negras
A luz dos jacarandás
Pedrinhas diáfanas do rio
Caminhos de minha memória
Portas de meu infinto!

Maria Félix Fontele


Quatro elementos

Há dentro de mim
uma mulher solta
que flutua como
nuvem no céu de
minh’alma.

Nuvem densa
carregada de emoções
que derrete feito pranto.

Há dentro de mim
uma mulher negra,
meio índia,
colorida como o arco-íris,
livre como o ar.

Ar que carrega
folhas do outono,
estremece oceanos,
sepulta o tempo.

Fluí de mim
força bruta,
selvagem.

Chama lírica
a incendiar a Terra
de amor e medo.


Canção para o silêncio

Todas as manhãs
quando acordava
ele compunha
uma fresta de luz
para o silêncio

A fresta era
instrumento
O silêncio,
o ouvinte

Ficavam assim
enternecidos
O homem
A fresta
O silêncio

À noite,
o silêncio ensurdecia
Não havia fresta
O homem dormia

Um sonho

Vestiu-se de anjo.
Balançou
as asas contra o vento.
Sobrevoou a cidade
feita do ouro e da prata.
Sentou-se numa nuvem
azulada de fumaças
para ver se o tempo
passava na desgraça
dos dias móveis, infinitos
tão tranqüilos e benditos.
E jogou-se no vácuo
Voou de lado para mirar
o Oeste
terra que oferece prazer.
E tornou-se homem
Deixou de ser anjo
Galgou pelos campos
Conquistou seus sonhos
Sentiu-se como Deus
Mas não passava de uma judeu
que com um grito rouco
ergueu-se um pouco
estendeu a mão e
disse que era Adão
O povo inteiro fez
procissão
Já não era um santo
Mas um tal de João
que atravessou com Eros
o umbral da imortalidade
para amar todas as mulheres
Mulheres de todas as cores,
pedaços de céus no universo.
E chegou a madrugada
feita de sonhos,
misturada com luz solar.
Chegou sem arruaças
Lhe acordou sem tombos
Lhe despiu o anjo.
Lhe fez uma fita
a desenrolar-se
E lhe disse o mais
difícil do que fácil.
Quando o dia escapuliu


Liberdade

Embala-me sinfonia
nesta madrugada lírica
de tons, semitons.
Eleva-me às tuas esferas
com magia e ternura.
Quero dançar em teu ar.
Ter tua morte efêmera.
Ser dança e música
ao mesmo tempo
com o ritmo de solver-me
feito o mar e sua espuma.
E só haverá na Terra
dança e música,
música e dança
entre os espaços
como pirilampos
numa noite escura.


Brasília

A cidade dos palácios
não tem muros.
Seus guardiões são
homens invisíveis
que tecem a história
no porão do tempo.
Tripulantes da nave-mãe.
Cidade verde de sonhos,
madura de ambições.
Suas ruas são apenas
ruas despedidas de
esquinas e becos.
Braços eternos
a receberem a ardência
do Sol, o brilho da Lua.
Os palácios
são casas brancas,
belas,
suspensas em arcos.
Arte concretizada.
Palco das ilusões.


A trilha

O Rio Negro
é denso escuro
como o sangue
de nossas veias.

Oh! navegante
desse rio lento
segui sempre a
trilha que leva
ao caminho do coração

O rio para ti,
navegante do tempo,
é o mundo que passa
fluído em seus dedos.


Lua Negra

Não quero dominar-te
mundo real
Como a matéria
em minhas mãos
Há sombras
em tua paisagem
E a solidão humana?

América!
Minha América
contemporânea
Como lapidar-te
pedra bruta
Fazer-te
um diamante?

Avança fim de século!
Avança!
Depois dessa
lua negra
centenária
haverá claridade


Um Sonho

Vestiu-se de anjo.
Balançou
as asas contra o vento.
Sobrevoou a cidade
feita do ouro e da prata.
Sentou-se numa nuvem
azulada de fumaças
para ver se o tempo
passava na desgraça
dos dias móveis, infinitos
tão tranqüilos e benditos.
E jogou-se no vácuo
Voou de lado para mirar
o Oeste
terra que oferece prazer.
E tornou-se homem
Deixou de ser anjo
Galgou pelos campos
Conquistou seus sonhos
Sentiu-se como Deus
Mas não passava de uma judeu
que com um grito rouco
ergueu-se um pouco
estendeu a mão e
disse que era Adão
O povo inteiro fez
procissão
Já não era um santo
Mas um tal de João
que atravessou com Eros
o umbral da imortalidade
para amar todas as mulheres
Mulheres de todas as cores,
pedaços de céus no universo.
E chegou a madrugada
feita de sonhos,
misturada com luz solar.
Chegou sem arruaças
Lhe acordou sem tombos
Lhe despiu o anjo.
Lhe fez uma fita
a desenrolar-se
E lhe disse o mais
difícil do que fácil.
Quando o dia escapuliu