Manifesto
pela paz no Iraque
Amigos,
Eu e a Ana Peluso
estamos organizando um manifesto escritores, artistas, intelectuais
e cidadãos do Brasil, América Latina e outros cantos do planeta
pela paz no Iraque e apuração de todos os casos de violação dos
direitos humanos pelas forças de ocupação. O texto do manifesto,
junto com as assinaturas de apoio, será veiculado na Internet,
no site da Officina do Pensamento (que hospeda a Zunái), além
de ser divulgado junto à imprensa. Publicaremos, na mesma página,
fotos das atrocidades e algumas das notícias publicadas na mídia
a respeito. A partir desse gesto de repúdio à barbárie, discutiremos,
em conjunto, outras formas de intervenção, inclusive leituras
poéticas e performances artísticas contra essa tragédia e pela
paz na região. Peço a vocês que leiam o documento abaixo e, aqueles
que desejarem, enviem um e-mail, autorizando a publicação de seus
nomes na lista de apoio à declaração.
Abraço a todos do
Claudio Daniel
Manifesto
pela paz no Iraque
(ou Carta de Abu Ghraib)
Corpos nus, empilhados,
em pirâmide de peles. Ganidos de cães. Odor de urina. Golpes de
fuzis. Torsos vermelhos, queimados com fios elétricos ou tocos
de cigarro. Sorrisos de soldados tatuados que se divertem com
a carne torturada. Cenas de Treblinka? Da Bósnia? Da Faixa de
Gaza? Não, de Abu Ghraib. Fotos e notícias chocam a comunidade
internacional, com denúncias de espancamentos, estupros, mutilações,
mortes de civis. A ocupação anglo-americana no Iraque, realizada
sem o aval da ONU, ignorando a Convenção de Genebra e dificultando
as ações da Cruz Vermelha, aparece cada vez mais como um crime
contra a humanidade. O massacre da população soma-se ao saque
e destruição do rico patrimônio histórico e cultural do país,
como sua biblioteca, uma das mais ricas do Oriente Médio, sítios
arqueológicos, mesquitas e o Museu Nacional de Bagdá. Todos esses
horrores, praticados com cinismo e indiferença pelas tropas de
ocupação, não têm amparo nas leis internacionais e precisam ser
investigados como crimes de guerra. O governo de George W. Bush
é o principal responsável por esta tragédia, já que não foram
encontradas armas de destruição em massa no Iraque, nem foi descoberto
qualquer elo entre Bagdá e a organização de Osama Bin Laden, responsável
pelos eventos do 11 de Setembro. As únicas armas letais descobertas
no Iraque são as utilizadas pela força de ocupação, que não hesita
em utilizá-las para matar milhares de pessoas. Entendemos que
este conflito, cuja origem real é o desejo de controle do petróleo
iraquiano e a política expansionista da Casa Branca, representa
perigo para o mundo, ao estimular o racismo e a intolerância,
o menosprezo às diferenças religiosas e culturais, aceitar a tortura
de prisioneiros e o cerceamento da imprensa e das liberdades individuais,
inclusive dentro do território norte-americano. Cabe recordar
que George W. Bush foi eleito numa votação irregular, já evidenciando
seu desprezo pela democracia. Estamos assistindo ao surgimento
de uma nova manifestação autoritária, ainda mais ameaçadora pelo
fato de se estabelecer num país com real capacidade de destruição
em massa, e que coloca sua vontade de império acima dos mais elementares
direitos humanos, consagrados aliás em sua Constituição e na Carta
da ONU. Esta não é a América de Walt Whitman. Esta não é a América
de Allen Ginsberg. Esta é a América de George W. Bush. Cabe a
nós, escritores, artistas, intelectuais, integrantes da sociedade
civil do Brasil e da América Latina, exigir o fim do morticínio.
Pela retirada imediata e unilateral de todas as tropas estrangeiras
do Iraque. Pela apuração de todos os casos de tortura e desrespeito
aos direitos humanos e punição dos responsáveis, por fóruns internacionais.
Pelo retorno da autonomia e da soberania ao povo iraquiano, o
único capaz de decidir o seu próprio destino, com o apoio pacífico
da comunidade internacional.
São Paulo, maio / 2004
DIGA
NÃO À VIOLÊNCIA.
LEIA
MAIS:
SARAMAGO:
— Torturas no Iraque são "indecentes"
Agência EFE
O escritor português José Saramago disse nesta segunda-feira que
a tortura e os abusos cometidos por soldados americanos no Iraque
superaram "o limite da decência, até em uma coisa tão indecente
como a guerra".
Durante um ato público em Gênova, Saramago afirmou que o conflito
no Iraque é "uma guerra nascida de uma mentira" e essa circunstância
o converte em um "escândalo".
Na opinião do Prêmio Nobel de Literatura, a guerra é simplesmente"
um ataque dos Estados Unidos ao Iraque, surgido com o pretexto
de buscar as armas de destruição de massa. Essa foi a primeira
falsidade da qual depois derivaram as outras".
Depois veio o caso das torturas, cujo pior aspecto, para o escritor,
é o fato de que não foi um caso de sadismo de um indivíduo, mas
de "um horror organizado em um escritório, com racionalidade perversa".
REPASSE
ESSE MANIFESTO.
VEJA
AS IMAGENS QUE ENVERGONHARAM O MUNDO
1ª
PARTE / 2ª
PARTE / 3ª
PARTE
31/05/2004
- 05h16
Dalai Lama qualifica de "horrorosos"
abusos dos EUA no Iraque
Londres,
31 mai (EFE).- O Dalai Lama, prêmio Nobel da Paz em 1989, qualificou
de "horrorosos" os abusos cometidos por soldados dos Estados Unidos
a presos iraquianos na prisão de Abu Ghraib, nos arredores de
Bagdá, segundo uma entrevista publicada hoje, segunda-feira pelo
jornal "The Guardian".
"Geralmente,
vemos os Estados Unidos como defensores da liberdade, da justiça
e desse tipo de coisas. Portanto, quando ocorre algo como isso,
consideramos horroroso", disse o líder espiritual tibetano, de
visita no Reino Unido.
O
Prêmio Nobel lembrou que o povo do Tibete também sofreu "muita
tortura" e "muito abuso" por parte da China, que invadiu esse
território em 1950 e assassinou mais de um milhão de pessoas,
segundo diversas fontes.
Como
solução a problemas como o do Iraque, o líder espiritual defendeu
"educar" o público em geral e, sobretudo, as "gerações mais jovens",
de modo que se analise "o que está fazendo o mal".
O
Dalai lama, que vive exilado na Índia desde 1959, chegou no último
dia 27 ao Reino Unido, onde permanecerá até a próxima quinta-
feira.
Durante
sua visita, o Prêmio Nobel foi recebido pelo príncipe Charles
da Inglaterra, herdeiro da Coroa britânica, e pelo ministro britânico
de Assuntos Exteriores, Jack Straw, entre outras personalidades.
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