Expresso
Mineiro: Pão de Queijo Notícias
(por José Aloise Bahia)
“Pão de queijo também é nome de jornal?” Questiona a curiosa sobrinha
de 15 anos ao ver uma folha impressa. “Não, não é jornal. O nome
de um saite”, respondi. “O nome de uma revista e de um newsletter”.
Acho que ficou mais ou menos na mesma. Ela insistiu com outra
pergunta: “Pão de queijo também é internacional? É inglês?”. Afirmei
com um olhar, e já meio sem paciência: “Não, pão de queijo é mineiro
mesmo, uai”. Dei uma pausa no teclado. Foi aí que me dei conta
que ela estava falando também de uma outra palavra: newsletter.
O leitor deve estar se perguntando, o que te tem a ver a conversa
com a minha sobrinha, as palavras newsletter, revista e pão de
queijo? Primeiro: a iguaria mineira transpôs as mesas das
cozinhas, restaurantes e lanchonetes e chegou a internete. Não,
não se trata de fornecer a receita da massa assada no forno. Se
alguém pensou numa saborosa chávena de rubiácea ou café expresso,
acompanhando o petisco, passou perto. Principalmente, se a ligação
for com a palavra expresso. Está difícil!? Então vamos ao que
interessa: Pão de Queijo Notícias é um expresso diário e virtual
de informação, feito por profissionais da imprensa em Belo Horizonte.
A cobertura é a capital mineira e todo o interior do Estado de
Minas Gerais e outras cidades brasileiras. E o mais importante:
o informativo é um grupo aberto de discussões na área de comunicação
social.
Pois bem, como nós temos uma certa mania em copiar estrangeirismo,
e eu uma certa resistência, prefiro adotar uma outra expressão.
Aliás, reforço um sentido mais pleno já dito anteriormente: expresso
diário e virtual de informação (ou de notícias, de debates, de
reflexão). Em se tratando do PQN, esta seria uma possível
tradução com significados mais dignos de entendimentos para a
palavra newsletter. Segundo: já tem história. Em novembro
de 2003 foi realizada a primeira edição do “Seminário Mineiríssimo
de Jornalismo Pão de Queijo Notícias”, um evento que debateu e
procurou alternativas de trabalho para os jornalistas, além de
apresentar novas tecnologias do mercado profissional. Hoje, está
na internete (www.paodequeijonoticias.com.br)
e arrasa nas Alterosas em sua mais nova versão: virou revista
impressa. O fundador do PQN, o jornalista Robson Abreu, lançou
o primeiro número em dezembro de 2004, numa cerimônia e tanta
em Belo Horizonte, no anfiteatro mais chique da capital, o Palácio
das Artes.
Os números do PQN – De acordo com Abreu a lista do PQN
já conta com 3.735 e-mails cadastrados no Brasil, Minas, outros
estados e até do exterior. Quantos e-mails você recebe diariamente?
“Depende, geralmente recebo 500 e-mails em dias de pouca discussão.
Quando a coisa apertou, como o debate da UFMG, recebi 700”, comenta.
Quais são as temáticas levantadas e as mais discutidas pelo pessoal?
“Às vezes até cinco temáticas diferentes numa mesma edição. Neste
momento estamos debatendo quatro: UFMG, estágio não remunerado,
questão dos impostos altos e a revista, que vai para o seu segundo
número”. São dados surpreendentes para um movimento que começou
há quase dois anos. Terceiro: toda a participação via internete
e na revista impressa são feitas por colaboradores. Pode-se até
pensar numa imprensa independente: uma espécie de cooperativa,
sem remuneração e com muita dose de criatividade e solidariedade.
E ainda tem as festas, chamadas “minivers”, minianiversários do
PQN. Congratulações que reúne mais de 150 jornalistas em eventos
temáticos como a “famosa feijoada”. Em sua última edição participaram
190 jornalistas num badalado espaço mexicano de Beagá. Convenhamos:
nunca na história mineira, um jornalista conseguiu mobilizar tanta
gente na categoria.
“Sem a colaboração dos pares, sem a contribuição dos profissionais
da imprensa, não seria possível a revista. A luta foi difícil,
mas não inglória. Tanto assim que aí está, em noite de gala, se
exibindo em seu primeiro número, bem à moda de César, atravessando
o Rubicão: a sorte está lançada”. Eis um trecho do editorial da
revista PQN Pão de Queijo Notícias: jornalismo para comunicação
em seu primeiro número. O preço: R$ 9,90. Para 64 páginas de ousadia,
multiplicidade, reflexão e combatividade. Na sua matéria de capa,
chama a atenção à manchete “Queremos um Conselho? Após tanta discussão
e manipulação, projeto de lei ganha alterações e o órgão passa
a se chamar Conselho Federal dos Jornalistas”. São oito páginas
relatando a cronologia e as tentativas de criação de um conselho
ao longo da história da comunicação social brasileira. Detalhe:
a reportagem ouve quase todos os personagens relacionados à questão.
Políticos, sindicalistas, jornalistas, professores, radialistas,
Ongs (TVER), OAB, etc. participam de uma matéria ampla e pertinente.
Só faltaram as vozes dos donos das empresas de comunicação (TVs,
rádios, revistas e jornais), assessores de imprensa e o pessoal
das relações públicas. “Esse outro lado seria uma segunda matéria.
Como o projeto foi ‘arquivado’ vimos que a notícia ficou caduca.
Mesmo assim, daremos espaço na edição de número dois, que sai
agora em março de 2005”, observa o editor executivo Robson Abreu.
No primeiro número coexistem também temas variados, acolhendo
uma gama qualificada de cidadãos: profissionais, estudantes, desempregados,
professores, editores, redatores, etc.
Quarto: dificuldades foram o que ainda não parou de existir
desde o número um do expresso diário e virtual de informação,
e no da revista. Como observa Abreu as maiores são no envio dos
e-mails pela internete. Ele tem que separar mais de 3.000 e-mails
em grupos de 40 (para que as mensagens são sejam percebidas/recebidas
com spans) e ficar teclando ctrl+c e ctrl+v. Um esforço repetitivo
tamanho que chega a doer os dedos. Com relação à revista, o eterno
problema das demais, principalmente as menores e as que começaram
a ser publicadas recentemente: captar publicidade no mercado.
Aí é que entra os amigos e os colegas. Entre uma indicação e outra
Abreu toca o barco. Consegui fechar a primeira edição com mais
de 10 anunciantes.
Quinto: o próximo passo, além da segunda edição da revista
(pretende-se estender ao público nacional), é reeditar o Prêmio
PQN de Ouro para os melhores da imprensa mineira do ano de 2004.
No ano passado, o sucesso da festa e a integração foram tão grandes
que até empregos mais ou menos duradouros alguns jornalistas conseguiram.
A lista de votação por categorias já está on-line (melhor jornalista
de TV, de jornal, de rádio, melhor saite, etc.). Cada cadastrado
pode escolher um nome entre três opções sugeridas e selecionadas
pela turma que visita o saite e lê o expresso diário e virtual
de informação (insisto nesta expressão). Mais informações: paodequeijonoticias@globo.com.
Sexto: e o que a minha sobrinha tem a ver com tudo isto
que está escrito acima? Para minha tranqüilidade, no meio do bate-papo
daquela tarde, não fui mais interrompido quando já estava escrevendo
o segundo parágrafo desta pequena matéria. Somente observei de
longe que ela estava remexendo em alguns livros da estante. Já
no finalzinho, precisamente no começo deste último, Sophia chega
perto de mim, e cara a cara me revela: “Tio, já sei pra quê eu
vou prestar vestibular!”. Eu respondi de maneira afável: “Olha,
olha, que notícia boa. A princesa já sabe o que quer estudar na
universidade”. O espanto veio com o complemento: “Eu vou prestar
vestibular para comunicação social. Eu quero ser jornalista”.
Depois daquilo fiquei olhando para ela, para o computador e a
janela aberta, pois estava fazendo um calor dos diabos. Um misto
de felicidade ou infelicidade, pena, caneta, teclado, incertezas,
sei lá, abateu-se sobre mim. Mais uma na família estava decidida
a trilhar este caminho tortuoso, fecundo e cheio de surpresas.
Ah! Particularidade que estava esquecendo de comungar com os leitores:
o pai dela (casado com a minha irmã) tem um jornal de circulação
média aqui na capital. Na sua opinião, você não acha que ela tem
tudo para dar certo e, nem bem iniciou já está começando com sorte
na futura profissão?
José Aloise Bahia (Belo Horizonte/MG). Jornalista
e escritor. Pós-graduado em Jornalismo Contemporâneo. Autor de
Pavios Curtos (no prelo pela anomelivror). josealoise@aol.com
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