Busca
Home
ENTREVISTAS



Nesta entrevista, o presidente do SEDF, Gustavo Dourado, faz uma síntese do trabalho desenvolvido pela diretoria da entidade que, nos últimos três anos, batalhou no sentido de impulsionar a divulgação dos autores brasilienses. Ele preconiza um futuro promissor para a literatura, com a integração das novas tecnologias e meios de comunicação que facilitarão o acesso do leitor a um maior número de escritores, muitas vezes relegados pelo competitivo e tradicional mercado editorial.

Escriba – Qual o balanço que você faz destes três anos à frente do sindicato?
GD - O balanço é altamente positivo. Houve um avanço na divulgação do trabalho dos escritores brasilienses, que hoje ocupam um lugar proeminente na cultura local. Isso em parte se deve ao grande número de lançamentos de livros, muitos com o apoio do sindicato. Atualmente registramos uma média de cinco lançamentos por semana, em grande parte, de autores locais. Assim, atingimos o mesmo nível do Rio e São Paulo. Falta, no entanto, maior apoio dos órgãos governamentais e profissionalização do mercado editorial. Contudo, reconhecemos que a literatura brasiliense conquistou o seu lugar de destaque.
Escriba – Ao seu ver, quais os motivos para essa expansão da literatura local?
GD – Graças, principalmente, ao trabalho desenvolvido pelos autores. A melhoria da qualidade textual também é outro ponto positivo. A ação do sindicato tem impulsionado a divulgação dos escritores brasilienses, com apoio a lançamentos de livros de novos escritores e de autores já estabelecidos, por meio de importantes projetos. Dos projetos desenvolvidos, salientamos a Usina de Letras via Internet e a Estante do Escritor Brasiliense que têm proporcionando maior visibilidade das obras literárias.
Escriba – E quanto ao mercado editorial. Você acha que ele está mais aberto?
GD – Em Brasília, ainda temos poucas editoras. A grande maioria são gráficas. Praticamente não existem contratos editoriais. O autor paga por tudo. E isso é um drama, pois a atividade do escritor é muito individual e pouco valorizada numa sociedade de analfabetos reais e analfabetos virtuais. O meio empresarial também não investe em cultura de um modo geral. A Bolsa Brasília de Produção Literária está paralisada e a Secretaria de Cultura não desenvolve projetos literários. Apesar de tudo, os autores de Brasília vêm quebrando os grilhões e conquistando espaços. Haja vista o número significativo de autores premiados e vencedores de concursos literários em outros estados e até no exterior. Muitos autores participam de antologias, coletâneas, revistas, jornais e publicações diversas. Dos membros do sindicato, 250 já foram agraciados em concursos e prêmios literários. E este é um grande incentivo para se continuar na luta.
Escriba –Quais sugestões você daria a quem quer publicar um livro hoje em Brasília?
GD – Em primeiro lugar, ter autocrítica. Analisar o mérito da obra e a qualidade do trabalho. Não se deve publicar uma obra somente pela vaidade. É necessário depurar o texto e conhecer os bons autores. A partir daí, começa uma verdadeira via-crucis. É necessário registrar a obra na Biblioteca Nacional, via Biblioteca Demonstrativa. Preparar os originais e enviá-los para as editoras. E, sobretudo, ter paciência para receber muitas negativas. Conheço autores premiados pela Academia Brasileira de Letras que tiveram seus originais vetados por mais de 20 editores. E que depois criaram suas próprias editoras. Como dizia Fernando Pessoa – “tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Portanto, se um escritor tem talento e uma boa obra, ele deve mesmo batalhar para publicá-la.
Escriba –como ficou o seu trabalho individual de escritor nestes três anos à frente do sindicato?
GD – Apesar da falta de tempo e do grande número de tarefas, mesmo assim, consegui publicar o livro Phalábora e participar das antologias Espelhos da Palavra, Poesia de Brasília, Coletivo de Poetas e Brasília: Vida em Poesia. Além disso, publiquei dezenas de textos no site Usina de Letras e em outros sites da Internet. Mas a minha maior satisfação neste período foi ver o meu trabalho ser reconhecido em tese do mestre Ilton Cerqueira, da Universidade Federal de Ouro Preto, e em seleção da comissão editorial Selo Letras da Bahia. Assim, desenvolvi atividades como presidente do SEDF, sem, contudo, esquecer da produção literária pessoal.
Escriba – Ao seu ver, qual o futuro do livro diante das novas tecnologias?
GD – O livro é eterno. Ele não morrerá. Deverá, no entanto, passar por transformações e adaptações às novas linguagens e tecnologias. O computador, as linguagens audiovisuais, a Internet, tudo isso contribuirá para que a literatura passe por um processo de renovação. As perspectivas não são ruins, uma vez que haverá uma maior democratização no processo de edição e de divulgação de textos. A preocupação maior é com a qualidade. Esta, deve permanecer sempre, independente de qualquer tecnologia ou inovação.

 

voltar