CORREIO BRAZILIENSE 27/12/1999
Usina
virtual de criação
Alexandre Machado
Um novo site na Internet abre espaço
para escritores, conhecidos ou não,
publicarem seus contos,crônicas,poesias

Gustavo Dourado,o Amargedom,
com nove livros publicados e
presidente do Sindicato dos
Escritores: confiança de que
a Usina de Letras vai ajudar
na divulgação de seus textos
Sai de cena o papel. A solidão
do ato criativo encontra o escritor de frente para um novo espaço
vazio, a tela do computador. E ele, criador, prostra-se diante
da tecnologia, diante da expectativa de poder ser lido em escala
planetária.
Na Internet. Não, não se trata de qualquer previsão
apocalíptica, das tantas em moda na virada do cabalístico
ano 2000. É muito
mais simples, e mais revolucionário como todas as
boas soluções, há mais de dois milênios.
A idéia tem nome, Usina de Letras, e endereço virtual
(www.usinadeletras.com.br).
Nesta home page, qualquer escritor, ou outra pessoa que deseje
publicar texto de sua autoria, tem amplo acesso. Basta credenciar-se
no site, enviando pela própria página os dados pessoais
nome, endereço, senha etc.
A idéia, extraoficial, é do
CBData-ZAZ. Com apoio do Sindicato dos Escritores do Distrito
Federal (SEDF). A iniciativa é
excelente, comemora Gustavo Dourado, o Amargedom,
presidente do SEDF. A felicidade não é gratuita.
Amargedom sabe que a principal dificuldade encotrada pelos escritores
de Brasília é conseguir distribuir seus livros.
Em geral, publicados por conta própria.
Eu tenho nove (livros) publicados. Todos saíram
do meu bolso, e aqui em Brasília não tem um esquema
de divulgação.
Não tem indústria do livro. As livrarias são
de rede. Creio que esse projeto vai mudar tudo, aposta
Amargedom.
É um espaço gratuito, sem discriminação,
avisa o diretor do ZAZ em Brasília, Waldomiro Guimarães
Júnior. Não há censura.
Qualquer pessoa pode publicar seus textos.
Nem precisa ter conhecimentos de Internet.
Basta colar o texto no espaço disponível.
COMPETIÇÃO
Guimarães é um grande entusiasta do projeto. Fica
horas vendo a competição entre escritores, que usam
pequenos estratagemas para aumentarem o índice de leitura.
Isso porque, na primeira página da usina, aparecem os dois
últimos textos enviados pelos autores credenciados.
Em geral, os mais lidos.
Sendo assim, alguns autores monitoram a concorrência, aguardando
o momento oportuno para enviar sua publicação.
Muitos publicam de madrugada.
É o momento da inspiração, conta
o diretor do ZAZ em Brasília.
Mas, um adendo: ainda não há,
mas haverá censura, sim, no site.
Não contra a criação literária.
Não haverá censor, porém, se
houver alguma coisa que fira a lei do país ou o direito
de outras pessoas, será retirada.
Há um advogado redigindo a polis (leis) da Usina,
adverte Waldomiro Guimarães.
Por exemplo, se houver mensagens de racismo, nós
vamos retirá-la.
A Usina de Letras, no momento, conta com dois serviços
básicos.
O primeiro é o publicador de textos.
Nele, o autor se credencia na Central do Autor, seleciona a modalidade
de texto
(crônica, conto, cordel, ensaio, poesia, artigo, discurso,
tese, monografia, infantil e infanto-juvenil) e dá ao mundo
virtual sua obra.
A página fornece ainda os princípios da proposta
desenvolvida pela CBData-ZAZ. Para quem desejar, ainda há
um esquema
de busca por palavra, autor ou título, que facilita o acesso
aos textos.
O outro serviço tem sido chamado de Placar. É
o de mais Ibope. Em cada texto, o escritor tem o número
leituras, conta Waldomiro Guimarães. No Placar,
é possível conhecer o autor mais lido na Usina de
Letras e o texto mais acessado. Estão relacionados os dez
primeiros em cada gênero. Até sexta-feira, 50 autores
estavam credenciados e havia 512 publicações.
Três novos serviços, em breve, devem acirrar a busca
por visibilidade no site. O primeiro terá espaço
para críticas e comentários.
Com o número de leituras, estará disponível
um frame no qual ficará visível quantos e quais
comentários foram feitos ao trabalho.
PATROCÍNIOS
Mas o serviço mais promissor, sem dúvida, será
a área para patrocínios. Se um empresário
gostar de um autor, ou texto, e
quiser patrociná-lo, bastará entrar nessa área,
dizer quem é, o número do cartão de crédito
e nos enviar um arquivo com o
banner (propaganda). Qualquer referência que se fizer ao
texto patrocinado mostrará o banner do patrocinador,
explica Guimarães.
O melhor: o ZAZ fará o papel do agente de cobrança.
E, como o autor é seu próprio editor inclusive,
sendo o único a
poder retirar o modificar seus escritos ele terá
apenas que negociar diretamente com o ZAZ o percentual na publicidade.
Um autor, quando é muito expressivo, recebe
15% da venda dos livros. Nossa proposta é, no mínimo,
de o autor receber
51%.
Por fim, a Usina de Letras terá uma loja virtual, onde
estarão à venda textos maiores dos escri-tores,
como romances, por
exemplo. Com direito à exibição da capa e
tudo. O arquivo será posto pelo próprio
autor.
A loja venderá o download, só livros virtuais. Aceitaremos
apenas os arquivos em formato Pilot, PDF e celular de terceira
geração, avisa Guimarães.