01
- Por conhecer tão bem a literatura de cordel, existe alguma
diferença entre o Cordel no nordeste e o daqui de Brasília?
GD - A literatura de
cordel atual, nordestina ou brasiliense, tem origens eruditas,
na literatura medieval dos trovadores albigens provençais,
na França.
Depois ganhou o mundo, Espanha, Portugal, Brasil, via Bahia,
Pernambuco, Paraíba, Ceará e em todos os estados do Nordeste.
Com a construção de Brasília, o cordel criou raízes no Planalto
Central, por meio dos candangos pioneiros e operários da construção
civil. O cordel marcou presença no início da construção com
os poetas e cordelistas anônimos. Cheguei a conhecer alguns
desses candangos como o Tião Varela , Ligeirinho da Candangolândia.
Vi outros em Ceilândia, Gama e Taguatinga e nas feiras. Mas
a maioria dos poetas ficaram anônimos e suas obras sumiram
nas argamassas do concreto. É preciso uma pesquisa séria para
se resgatar os primeiros poetas populares de Brasília.
Quase não se tem diferença entre a literatura de cordel praticada
em Brasília, com a praticada no Nordeste, a não ser algumas
influências de informção, gramatical, lingüística e de cultura
regional.
02
- Como entrou em Brasília a literatura de cordel?
GD - O cordel veio para
Brasília no início da construção com os primeiros operários
e pioneiros. Surgiu nos acampamentos da Vila Operária, atual
Candangolândia, Núcleo Bandeirante, Vila Metropolitana, Vila
Planalto, Taguatinga, Granja do Torto e nos diversos acampamentos
das construtoras.
A presença do cordel é mais destacada nas cidades peirféricas
e no Entorno. Ceilândia, pela grande presença de nordestinos,
é um centro de poesia popular, com destaque para a Casa do
Cantador. O cordel está presente no Plano Piloto, na UnB,
no Congresso Nacional e em vários órgaos públicos.
Tem muita gente que faz experiência com o cordel: professores,
escritores, jornalistas, compositores. O cordel tem uma forte
presença na Internet e Brasília tem os seus representantes..
03
- Em que contexto se encontrava a capital quando essa literatura
de traços tão nordestinos se implantou aqui?
GD - Brasília estava
no início da construção e era forte a presença dos nordestinos,
principalmente na Cidade Livre(Núcleo Bandeirante/Candangolândia)
e nos diversos acampamentos. Muitos eram retirantes e já eram
poetas em suas cidades de origem, nos vários estados do Nordeste.
Aqui , continuaram a fazer os seus versos e a relatar a epopéia
da construção e os feitos dos pioneiros e do presidente JK.
04
- Há quanto tempo existe esse movimento cultural em Brasília?
GD - Desde 1956, com
o início da construção. Hoje, o cordel tem a vertente tradicional
dos folhetos e a vertente moderna, via Internet.
05
- Quais são as características da literatura de cordel brasiliense?
GD - São as mesmas do
cordel nordestino. Narra as epopéia do povo, feitos, milagres,
notícias, crimes, biografias. Geralmente são narradas em sextilhas
e mantém a mesma estrutura do cordel tradicional.
06
- Existem cordelistas nascidos aqui em Brasília?
GD – Creio que já deva
existir. Lá pelo Núcleo Bandeirante, CandangoLãndia, Gama,
Taguatinga, Paranoá . Ceilândia já deve ter a sua primeira
safra de poetas. É preciso pesquisar. O espaço para a poesia
é ínfimo. Há muito preconceito contra a literatura de cordel.
A nossa elite é muito americanizada e quase não valoriza a
cultura popular, com exceção do samba e do carnaval. A imprensa
de Brasília é muito elitista e pouca divulga a literatura
de cordel. O negócio deles é rock e indústria cultural.
07
- Qual é a origem da literatura de cordel em Brasília e de
onde vem essas influencias?
GD – A origem é o Nordeste,
de todos os estados. A influência vem dos candangos pioneiros
e dos migrantes, principalmente via êxodo rural.
08 - Por essa literatura
ser oriunda de estados que viveram e vivem constantes problemas,
como a seca, fome e a mal distribuição de renda, como pode
essa literatura ser incrementada em uma outra região, no caso
Brasília, que tem um contexto em modos gerais completamente
diferente?
GD – O homem é sentimental
onde quer que esteja. Brasília têm várias facetas e ângulos.
A Brasília dos Palácios e Mansões, não é mesma da Vila Estrutural,
de Itapoã, Arapoanga, Recantos das Emas e do Entorno. Tem
uma Brasília que vive problemas sérios de desemprego e subemprego
e essa Brasília é muito parecida com o Nordeste...Daí é um
passo para que os poetas retratem as suas mazelas e problemas.