Política
e Politicalha
(por Rui Barbosa)
A política afina o espírito humano,
educa os povos no conhecimento de si mesmos, desenvolve nos indivíduos
a atividade, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia, apura,
eleva o merecimento.
Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, a que
entre nós se deu a alcunha de politicagem. Esta palavra não traduz
ainda todo o desprezo do objeto significado. Não há dúvida que
rima bem com ladroagem. Mas não tem o mesmo vigor de expressão
que os seus consoantes. Quem lhe dará com o batismo adequado?
Politiquice? Politicaria? Politicalha? Neste último, sim, o sufixo
pejorativo queima como um ferrete, e desperta ao ouvido uma consonância
elucidativa.
Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se
relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam
mutuamente. A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios
definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis.
A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses
pessoais.
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