Leandro,
o poeta
(por Carlos Drummond de Andrade)
(Jornal do Brasil, 9 de setembro
de 1976)
”Em l913, certamente mal informados, 39 escritores, num total
de l73, elegeram por maioria relativa Olavo Bilac príncipe dos
poetas brasileiros. Atribuo o resultado a má informação porque
o título, a ser concedido, só podia caber a Leandro Gomes de Barros,
nome desconhecido no Rio de Janeiro, local da eleição promovida
pela revista Fon-Fon, mas vastamente popular no Norte do país,
onde suas obras alcançaram divulgação jamais sonhada pelo autor
de Ouvir Estrelas. E aqui desfaço a perplexidade que algum leitor
não familiarizado com o assunto estará sentindo ao ver defrontados
os nomes de Olavo Bilac e Leandro Gomes de Barros. Um é poeta
erudito, produto de cultura urbana e burguesia média; o outro,
planta sertaneja vicejando à margem do cangaço , da seca e da
pobreza.Aquele tinha livros admirados nas rodas sociais, e os
salões o recebiam com flores. Este espalhava seus versos em folhetos
de cordel, de papel ordinário, com xilogravuras toscas, vendidos
nas feiras a um público de alpercatas ou de pé no chão. E conclui
a propósito de Leandro: Não foi príncipe de poetas do asfalto,
mas foi, no julgamento do povo, rei da poesia do sertão, e do
Brasil em estado puro”.
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