HORÁCIO
DE MATOS E O MAJOR MOTA COELHO
(por Mário Ribeiro Martins)
Em princípio de 1920, Horácio de
Matos com 38 anos de idade, ocupou a cidade de Lençóis que era,
então, a mais importante cidade da Bahia, depois de Salvador.
Seu objetivo, ao ocupar Lençóis, era fazer dali um ponto de apoio
para invadir Salvador, a Capital da Bahia.
O Deputado Manoel Alcântara de Carvalho, seu amigo, havia guardado
em casa, na cidade de Lençóis, “munição” suficiente para dar 125(cento
e vinte e cinco) mil tiros, caso Horácio de Matos precisasse deste
armamento.
Ocorreu que, sabedoras deste fato, as forças governamentais prepararam
um atentado contra a vida do Deputado Manoel Alcântara de Carvalho,
em 16.10.1922. O responsável pelo atentado foi exatamente o Major
João da Mota Coelho que era, naquele momento, o Capitão Comandante
da Companhia Regional da Policia Baiana e que tinha o apoio do
Juiz Nicolau e do Promotor Nilo Liberato Barroso.
Pois bem, é este Major João da Mota Coelho que, recebendo ordens
do governo da Bahia, projeta invadir Lençóis, tirar a vida de
Horácio de Matos e dar posse ao novo Delegado nomeado pelo governo
baiano.
No dia 17.01.1925, as Forças do Governo começaram a penetrar em
Lençóis por um dos povoados garimpeiros, o chamado “MEIO DO MUNDO”
que não era outra coisa senão um conjunto de “Canions” na estrada
entre Andaraí e Lençóis.
Perto dali, em Wagner, antiga Cachoeirinha ou Ponte Nova, Horácio
de Matos tinha um inimigo, o Coronel Antonio Ribeiro que ajudara
o Major Mota Coelho na sua marcha sobre Lençóis.
No dia 17.02.1925, o Major João da Mota Coelho, Comandante da
Companhia Regional da Força Baiana combina com o Tenente João
Antonio para atacarem de surpresa a cidade de Lençóis.
A combinação era que o Tenente soltasse foguetes quando estivesse
pronto com o seu grupo para atacar. Como os foguetes não pipocaram,
o Major Mota Coelho resolveu invadir a cidade com os seus homens,
totalmente desguarnecido.
Logo se encontrou com Horácio de Matos e seus homens. O tiroteio
foi intenso. Horácio enfrentou o Major Mota Coelho cara a cara,
atirando e se escondendo. Gravemente ferido, o Major Mota Coelho
caiu morto. Seu corpo foi levado pelos homens de Horácio, a pedido
seu, para a Intendência Municipal, onde foi velado e depois sepultado
no fim do dia(17.02.1925), no Cemitério de Lençóis.
O Major Mota Coelho tinha 50(cinqüenta) homens. 10(dez) foram
mortos. 10(dez) feridos e três(3) presos. Os demais fugiram. Horácio
teve 5(cinco) mortos e 6(seis) feridos.
Diante destes fatos, o governo estadual da Bahia recuou e mandou
uma Comitiva assinar o CONVÊNIO DA PAZ, também chamado de CONVÊNIO
DE LENÇÓIS, acordo assinado entre o General Alberto Cardoso de
Aguiar, Comandante da Quinta Região Militar e o Coronel Horácio
de Matos, quando da chamada Revolução Sertaneja.
A dita Comitiva reuniu-se num lugar neutro, na cidade de Mucujê
e era assim formada: Deputado Federal Francisco Rocha, representando
o Presidente Artur Bernardes. Secretário do Interior e Justiça
Bráulio da Silva Xavier, representando o Governador Góis Calmon.
Quanto ao Major João da Mota Coelho, no DIÁRIO OFICIAL do Estado
da Bahia, no dia 18.03.1925, foi publicada a sua promoção POST-MORTEM,
ao posto de CORONEL, atribuindo aos seus herdeiros o uso das vantagens
respectivas. Assim, ele não chegou ao posto de GENERAL. A promoção
foi assinada pelo Governador Góis Calmon(Francisco Marques de
Góis Calmon) e pelo Secretário de Polícia João Marques dos Reis.
Mas a morte do Major João da Mota Coelho, na entrada de Lençóis,
no dia 17.02.1925, terminou trazendo conseqüências sérias para
Horácio de Matos. É que a viúva do Major responsabilizou Horácio
por sua morte. Assim, pediu que seu tio Manoel Dias Machado, conhecido
como José Machado, contratasse o PISTOLEIRO Vicente Dias dos Santos
para matar Horácio.
Já tinham se passado cerca de 6(seis) anos, quando no dia 15.05.1931,
no Largo do Acioli, em Salvador, ao passar, descuidado com a filha
Horacina(do casamento com Augusta), de seis anos de idade, pela
mão, recebe três(3) tiros de revolver, pelas costas, disparados
por Vicente.
O criminoso Vicente Dias dos Santos foi CONDENADO pelo Júri, em
Salvador, no primeiro julgamento, a 21(vinte e um) anos de prisão.
Mas no segundo julgamento, 2(dois) anos depois, foi ABSOLVIDO.
Algum tempo depois, intoxicado por arsênico, na água que bebia,
foi internado no Hospital Militar de Salvador, onde morreu.
Apesar de sua importância, o Major João da Mota Coelho não é mencionado
no livro BAIANOS ILUSTRES(1979), editado pelo Instituto Nacional
do Livro, de Antonio Loureiro de Souza e nem é estudado na ENCICLOPÉDIA
DE LITERATURA BRASILEIRA, de Afrânio Coutinho, edição do MEC,
1990, com revisão de Graça Coutinho e Rita Moutinho, em 2001,
ou no “DICIONÁRIO HISTÓRICO-BIOGRÁFICO BRASILEIRO”, da Fundação
Getúlio Vargas, publicado em 2002 e nem é convenientemente referido,
em nenhuma das enciclopédias nacionais, Delta, Barsa, Larousse,
Mirador, Abril, Koogan/Houaiss, Larousse Cultural, etc. Não é
citado em CANGACEIROS, COITEIROS E VOLANTES(1998), de José Anderson
Nascimento, bem como não é encontrado em O DICIONÁRIO DE FAMÍLIAS
BRASILEIRAS, com 4(quatro) volumes gigantes. É verbete do DICIONÁRIO
BIOBIBLIOGRÁFICO REGIONAL DO BRASIL, de Mário Ribeiro Martins,
via INTERNET, dentro de ENSAIO, no site www.usinadeletras.com.br
ou www.mariomartins.com.br
*Mário Ribeiro Martins é Procurador de Justiça e Escritor.
(mariormartins@hotmail.com)
Home Page: www.genetic.com.br/~mario
www.mariomartins.com.br
VOLTAR