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ESPORTES OLÍMPICOS NO BRASIL

Passaram-se os jogos Pan-Americanos 2007 do Rio de Janeiro. Um evento inesquecível para o esporte brasileiro e para a cidade maravilhosa. Cenas cativantes e conquistas gloriosas aconteceram durante os dezoito dias de competição no mês de junho. O brasileiro, assim como nas copas do mundo de futebol, foram um exemplo de patriotismo (ou ufanismo e alienação?). O Pan deixou um grande legado para a infra-estrutura esportiva, não só do Rio, como do Brasil. O belíssimo estádio João Havelange, o Engenhão, o mais moderno da América Latina, é uma das heranças desse evento histórico, assim como o Complexo Esportivo do Autódromo em Jacarepaguá e suas instalações de primeiro mundo. Maracanã e Maracanâzinho reformados. A Vila Pan-Americana.

Durante o evento, o Rio de Janeiro parecia viver um sonho, todos os problemas pareciam ser resolvidos. Agora o evento acabou. A pergunta agora é: o que vai ser depois? No momento, nenhum clube ou grupo esportivo pretendem comprar ou adotar o Complexo de Jacarepaguá, seu custo é altíssimo e fora da realidade dos clubes e instituições esportivas do Brasil. O Engenhão tem um custo de manutenção altíssimo para os clubes brasileiros e vários especialistas questionam seu futuro, uns consideram inclusive demolí-lo. Irônico, geralmente alegam não ter dinheiro para patrocinar modalidades esportivas pouco divulgadas no Brasil, isso muda totalmente na hora de montar um evento beneficiando mais o bolso de patrocinadores, da mídia e da organização, onde "surge" o dinheiro capaz de construir instalações de primeiro mundo (muitas delas construídas ilícitamente).

A mídia, como sempre fez a sua parte. O evento, para a mídia, patrocinadores e organizadores, foi muito lucrativo. E para o esporte brasileiro? Será que depois do Pan, esportes pouco divulgados na mídia ganharão mais espaço? Será que poderemos ver com mais destaque, campeonatos nacionais de judô, karatê, ciclismo, handebol e futsal? Será que esportes desconhecidos para muitos como badmington, squash, beisebol, patinação artística e esqui aquático ganharão mais incentivo para a sua prática?

Agora alguém lembra desses esportes pouco divulgados no Brasil passado o Pan? Poucas pessoas.

Muitos desses atletas somente ganham destaque e reconhecimento em competições internacionais de grande divulgação. O incentivo, preparação e condições de trabalho desses atletas são muito precárias. Financiar uma modalidade esportiva a nível internacional custa dinheiro e a visão da maioria dos patrocinadores é lucrar. Investir em algo que dá resultados a longo prazo é algo pouco atrativo. Razão pela qual nossos atletas geralmente financiam sua preparação do próprio bolso, admitido pelo próprio Diogo Silva, medalhista de ouro em Taekwondo. Mesmo em condições tão adversas, nossos atletas conseguem resultados excelentes, conseguindo inclusive fazer frente com Cuba, uma das maiores potências olímpicas do mundo, no Pan 2007. Será que passado o Pan, teremos notícias da equipe de ginástica rítmica, vencedora de três medalhas de ouro? Da Edinanci Silva, ouro no Judô? Do Pedro Lima, ouro no boxe? Do Marreco, ouro no esqui aquático? Da Sabine Heitling, ouro nos 3.000m com obstáculos? Da equipe de canoagem, ouro no K-4 1.000m? Inclusive de esportes desconhecidos (para nós) como badmington, squash e patinação artística, terão mais destaque?

Nossa torcida também, acostumada demais a ver somente futebol, desconhece outras modalidades e não sabe como se comportar adequadamente. No atletismo por exemplo, na hora do tiro de largada, vaiam os atletas adversários, prejudicando o desempenho da corrida. Nos saltos ornamentais, onde silência é essencial, a torcida se manifesta, prejudicando o desempenho dos atletas. No tiro, era comum ouvir o grito da torcida incentivando o atirador brasileiro, que na verdade o prejudicou, admitido pelo mesmo. Atitudes anti-desportivas lamentáveis como a revolta contra a arbitragem no judô e manifestações políticas desnecessárias contra o presidente Lula na abertura dos jogos deixaram uma má imagem da torcida brasileira nos jogos, podendo comprometer a realização de futuros eventos semelhantes no futuro.

A mídia ganhou altos pontos de audiência e a organização e patrocinadores faturaram milhões. E o esporte? Será que realmente foi "ouro" ou será só uma conquista passageira? Muitos sonham em ver o Brasil se tornar uma potência olímpica, um sonho no momento distante, terá que bater de frente com os interesses da mídia e patrocinadores, os verdadeiros vencedores dos jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro em 2007.

O Brasil só se tornará potência olímpica no dia que decidirem gastar o que gastaram no Pan, na infra-estrutura esportiva do país. "Não temos dinheiro." Esse argumento não existe mais, como indicam os gastos com esse evento. Faltam vontade, interesse, determinação e dedicação do governo, comitês e patrocinadores. O esporte, capaz de retirar muitas pessoas da vida do crime e da pobreza, como fez com Diogo Silva, ouro no Taekwondo, se usado adequadamente pode melhorar a condição de vida e educação de muitas pessoas no país. O "país do futebol" tem capacidade de ser muito mais do que o país do futebol, para isso precisa deixar o ufanismo de lado e mudar a realidade.

"Missão cumprida", disse Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), no final dos jogos. Sim, sr. Nuzman, missão cumprida, sim. Para a mídia, organizadores e patrocinadores, não para o esporte brasileiro.

Yon Dourado é estudante de Jornalismo - UERJ.

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