DF:
TEMPOS MODERNOS
(por Luiz Ernesto)
"Subdesenvolvimento, não se improvisa,
é obra de séculos" (Nelson Rodrigues)
No serviço público há 30 anos, muito dos quais no Governo do DF,
incentivou-me escrever sobre o Distrito Federal: o seu momento,
oportunidades e seu novo tempo. Recorro inicialmente ao urbanista
Lucídio Albuquerque que no seu livro, "O Desenvolvimento Regional
Sustentável" ensina que o Estado Moderno deve ser estruturado
e gerenciado como mega empresa de prestação de serviços à sociedade.
E sociedade, seu desejo é uma ordem! Mas como alertava Goethe,
"cuidado com o que deseja porque vai acontecer"!
Em plena era da disseminação de empresas e mercados globais, vivemos
nos países emergentes a industrialização retardatária. Gerschenkron
(1962) pela validade do quanto mais atrasado tecnológica, econômica
e socialmente um país, em relação às economias desenvolvidas,
tanto mais importantes serão as ações governamentais para acelerar
o processo de desenvolvimento. Para esta intervenção, a razão
principal ancora-se em fatos largamente observados: a falta de
limites para o progresso tecnológico, os processos de produção
cada vez mais capital-intensivos, técnicas produtivas cada vez
mais sofisticadas, dentre outras, que dificultam e torna mais
onerosa a manutenção de vantagens de mercado. Mesmo assim, a intervenção
só se justifica se os seus benefícios excedem os custos decorrentes
de possíveis falhas de governo e rent-seeking. Podemos encontrar
na história do desenvolvimento econômico mundial exemplos de forte
intervenção do Estado, notadamente, na Alemanha e Rússia, àquela
altura, último quartel do século XIX, retardatárias frente à Inglaterra.
Contemporaneamente, o modelo de Alexander Gerschenkron continua
válido como estratégia para o desenvolvimento, respeitada a visão
de um estado necessário do tamanho que a sociedade exige, sendo
no caso brasileiro mais presente no eixo norte-nordeste, nos outros,
tanto mais quanto menos estruturadas e/ou organizadas suas respectivas
economias. Em comum, em todo território brasileiro a presença
econômica do Estado deveria ocorrer como condutor de recursos
destinados à infra-estrutura, a tudo que envolve logística, e
a educação. Na perspectiva pós-industrial e na visão de competitividade
sistêmica além dos mecanismos clássicos de incentivo, o mapeamento
dos APL's e o estímulo aos mais promissores, quer seja por fundos
de capital de risco, de aval ou de garantia às parcerias público-privadas,
deveriam estar nas agendas governamentais (federal, estaduais
e municipais).
Nessa ordem de idéias, temos observado que o Brasil viveu no século
XIX até 1930, quando a era Getuliana obrigou o país a entrar no
século XX, apagar os últimos vestígios da escravidão e industrializar-se,
criando, no processo, o operariado brasileiro. No entanto, desde
as três últimas décadas do século XIX, havia no ideário paulista,
a presença de uma relação direta entre Educação e Progresso. Lê-se
de um relatório de 1878... "É uma verdade incontestável que a
instrução pública caracteriza uma nação e assinala a sua posição
de grandeza ou inferioridade". "(...) Não há progresso social
e nem reforma política que não seja dependente do grau de cultura
moral e intelectual de um povo. (...) É a escola que prepara o
cidadão... que o adapta para as conquistas do mundo industrial
e para os grandes cometimentos da inteligência". No Segundo Império
(1840-1889), durante esse período aconteceram alguns fatos essenciais
para o desenvolvimento, dentre outros, citamos:
- Tarifa Alves Branco (1844) - taxava os produtos importados;
- Lei Eusébio de Queirós (1850) - proibia o tráfico externo.
Esses acontecimentos influenciaram na modernização de infra-estruturas
no país: bancos, fábricas e transporte. É o conhecido como "Era
Mauá", o primeiro surto industrial brasileiro.
Por que então não se deu o Desenvolvimento Econômico-Social do
Brasil?
A razão consagrada, e sem o propósito de esgotar o tema, é que
os países em desenvolvimento, seja no passado ou no presente,
sofrem uma série de pressões do establishment. Já se pensava no
Brasil no século XIX em rudimentos de manufaturas, mas, no século
XIV, sob o reinado de Eduardo III, a Inglaterra desenvolvia a
fabricação de tecido de lã, inaugurando na verdade a pré-industrialização
e a intervenção do Estado na economia, paradoxalmente, fonte intelectual
das doutrinas modernas do Laissez-Faire, a Inglaterra está longe
da verdade que se desenvolveu sem a intervenção do estado.
Em outros tempos, a Grã-Bretanha adotou providências para impedir
a transferência de tecnologia para os concorrentes potenciais,
pressionou os países menos desenvolvidos para que abrissem seus
mercados, inclusive empregando a força, reformulou a legislação
mercantil, criando a "Lei Robert Walpofe" que introduzia o pensamento,
bem conhecido dos economistas: nada mais contribui para promover
o bem-estar inglês que a exportação de manufaturados e a importação
de matéria-prima estrangeira.
Em suma, a Inglaterra sentiu-se incentivada a se valer dos poderes
políticos e econômicos por estar na liderança do processo de desenvolvimento
para desestimular aqueles países, ou colônias que desejassem tornar-se
economias desenvolvidas.
O Brasil por razões políticas e econômicas chegou atrasado na
era industrial, justiça seja feita, não faltaram brasileiros-empreendededores,
Irineu Evangelista de Souza, Delmiro Gouveia, dentre outros, que
trabalharam pela industrialização nacional. Na atualidade, o país
vem imprimindo uma nova velocidade ao processo produtivo, incorporando
tecnologias e dinâmicas para sua inserção no mercado internacional
competitivo. Nesse sentido, o Ministério do Desenvolvimento Indústria
e Comércio Exterior - MDIC, por intermédio dos Fóruns de Competitividade,
promovem as discussões (entre trabalhadores, setor produtivo e
o governo como um todo) na busca de soluções, oportunidades de
cada cadeia produtiva, contribuindo, assim para a efetivação do
conceito de desenvolvimento sustentado, como também, a compreensão
de que o funcionamento da economia depende de um conjunto de sinergias.
Na abordagem evolucionista, chego à Brasília, que veio na alma
das políticas desenvolvimentistas de JK - com o ideário de induzir,
promover a interiorização do Brasil, e, numa perspectiva pouco
difundida como portal de ocupação da Amazônia brasileira, (visão
de integração geopolítica e geoeconômica defendidas pelas Forças
Armadas e pela Escola Nacionalista de ilustres economistas da
época). - No mapa - Novo Distrito Federal (engenheiro Joffre Parada
6ª Edição de setembro /1958), o DF tinha uma configuração de poucas
edificações na Asa Sul, fazendas, sítios e, Planaltina e Brazlândia
como únicos núcleos urbanos. Passados 46 anos de uma paisagem
rural, vivemos uma realidade fortemente urbana. É o progresso,
podem dizer... mas progresso tem ordem! Esqueceram governos e
sociedade, os estudos e os planos deixados pela Comissão de Localização
da Nova Capital. A Cidade-Estado, segundo seus planejadores estratégicos,
deveria ser além de indutor da ocupação do Planalto Central, um
modelo para o Brasil de desenvolvimento econômico regional e nesse
caso cabe a pergunta por onde andam os Planos Diretores do DF?
O ZEE (Zoneamento Ecológico-Econômico, o Código de Posturas, o
de Mineração, dentre outros? Todos importantes, sendo o ZEE fundamental
para as tomadas de decisões públicas, sejam as territoriais, as
econômico-sociais. É sabido que o uso sustentável do território
e as vocações econômicas, dependem da Matriz Ecológica, no entanto,
as intervenções antrópicas, o descaso e a ausência sistêmica de
planejamento, tornaram o DF, um dos núcleos populacionais dinâmicos
mais densamente povoados do território brasileiro, envolvido por
um cinturão populacional ávido por empregos, detentor de altos
índices de violência e da pior distribuição de renda do país.
Eduardo Giannetti, em O Valor do Amanhã, incita-nos à ação na
percepção do tempo. "... O animal humano adquiriu a arte de fazer
planos e refazer impulsos, isto agora ou aquilo depois? Desfrutar
o momento ou cuidar do amanhã? Ousar ou guardar-se?".
Os problemas estão postos. O dinamismo do Distrito Federal nasceu
com o próprio ideário de Brasília - Capital do Brasil. As dificuldades,
o fluxo migratório, a questão ambiental, o desemprego, a saúde,
o desnível econômico com a RIDE eram previsíveis! Nada do que
está acontecendo é surpreendente! O modelo, viver agora - pagar
depois, prêmio da impaciência, foi o adotado pelos governos passados,
o que gerou "grosso modo" uma descaracterização de médio e longo
prazos na missão institucional do Distrito Federal.
Acertadamente, o Novo Governo do DF elegeu a Educação como o investimento
e a ferramenta principal do Desenvolvimento Econômico-Social.
Malthus, Principle of Political Economy (Londres-1820) - (...)
"a Educação pode prevalecer sob o despotismo... pouco pode fazer
sob um mau governo, embora possa realizar muito sob o que seja
bom". Economistas como Ricardo e Mill levaram mais longe a idéia
de educação como indutora de hábitos, prudência, economia, auto-aperfeiçoamento
e cidadania.
O DF deve acelerar o seu tempo histórico, pela maneira como cresce
o saber científico-tecnológico e como os produtos resultantes
(spin-offs) de sua ação são rapidamente disseminados na sociedade,
gerando amplas modificações ou rupturas que se sucedem em intervalos
de tempo cada vez mais curtos. A educação neste caso cria o chamado
spillover na sociedade pelo conhecimento e pela mobilidade social.
Além disso, é necessária a construção de uma matriz educacional
com alto grau de flexibilidade onde deverão estar definidas as
políticas vocacionais que atendam aos pré-requisitos para o Desenvolvimento
Regional Sustentável. As fragilidades ambientais do nosso território
impõem uma maior cooperação com a RIDE, para dar solução aos graves
problemas sociais. Isso feito, haverá, certamente, melhor distribuição
da renda, como também, a relação profícua entre as duas economias.
É no contexto contemporâneo, em que a educação se formalizou plenamente
e se tornou mais acessível que se pode falar em Matriz Educacional
como política de Estado com a finalidade de prover a educação
formal, profissional, integrada, criativa, solidária, flexível,
dotada de instalações, equipamentos e força de trabalho preparada.
Nosso território não poderá dispor de um parque produtivo que
contemple todos os setores industriais por razões institucionais
e ambientais. Entretanto, em conjunto com a RIDE,poderá fomentar
negócios geradores de externalidades positivas. A Matriz Educacional
será o grande pilar para a sustentabilidade econômico-social do
Distrito Federal e Entorno.
Jean-Baptiste Say percebeu que desde o operário que molda a madeira
até o ministro de estado que, com um golpe de pena, define tudo
ao que se refere ao comércio, indústria, agricultura, cada indivíduo
executará melhor o seu ofício se conhecer melhor a natureza das
coisas, se for mais instruído (...) Novos progressos em nossos
conhecimentos proporcionarão à sociedade um aumento de felicidade.
E felicidade é um desejo, como também um incentivo econômico-moral
que a sociedade ordena!
"O progresso social é o objetivo do desenvolvimento econômico
(JK - 1958)." O planejamento para o desenvolvimento regional integrado
é a busca de um mundo socialmente justo, no contexto de um desejável
equilíbrio dinâmico: território-população-economia-meio ambiente
que exige de todos compreensão, parceria, participação e completo
entendimento técnico-político.
LUIZ ERNESTO ANTUNES
DE OLIVEIRA
ECONOMISTA CORECON 3044
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