A
Metamorfose Ambulante Raul Seixas
(60 anos do rei do rock tupiniquim)
- 28/06/2005
Raul Seixas deixou um vácuo gigantesco na música e na cultura
moderna, especialmente no propalado e combalido rock brasileiro,
que com a morte de Raul perdeu a sua vitalidade.. Raul era único,
ímpar, sem igual, inimitável..Criador fantástico, rebelde, instigante,
precioso, fenomenal. Um vulcão de idéias e ações inovadoras.
Roubou a cena da música pop com as performáticas “Gita”
e “Ouro de Tolo”, entre tantas outras. Quebrou os
velhos tabus, rótulos, regras e paradigmas impostos pelo caótico
e anacrônico “establishment” do capitalismo selvagem,
desumano e cruel. Ah! Também pudera “Raul nascera a 10 mil
anos atrás e não tinha nada nessa vida que ele não sabia demais
e como sabia”. O homem era uma verdadeira zenciclopédia.
Além de tudo mais é filho da Bahia de Todos os Santos, Terra dos
Orixás, do Senhor do Bonfim e de São Jorge Amado.
Raul faz tanta falta para a música, assim como Glauber Rocha para
o cinema. Raul empolgava, sacudia, remexia e incrementava sonhos
desejos e idéias. Previu e cantou a “Sociedade Alternativa”
preconizada por utopistas, beatniks, hippies e poetas. Criticou
a mídia, a moda e a sociedade de consumo. Não perdoava a corrupção
e as malandragens dos políticos, cada vez mais presentes em nosso
cotidiano. Viva! Viva! Viva a Sociedade Alternativa, ecoava o
saudoso vate do Apocalipse e da revelação do Novo Eon.
Raul era reflexivo e analítico. Preocupava–se com as causas
da brasilidade, a Amazônia, a fome, a miséria, o Nordeste, o subdesenvolvimento
e o entreguismo de nosso rico patrimônio pelas elites, aos poderosos
estrangeiros. Ele gritou em alto bom som para que todos ouvissem:
“A solução é alugar o Brasil.” Raul constatou o descaso
que se tem com aquilo que é nosso. Doaram nossas riquezas por
moedas podres. Privatizaram o nosso
subsolo e leiloaram os nossos minérios a preço de banana. Desviam
nosso dinheiro para contas secretas na Suiça e nos escondidos
paraísos fiscais. Enquanto isso o povo passa fome e padece com
a falta de saúde, emprego e educação, sem falar de outras necessidades
básicas dos direitos humanos fundamentais.Tudo isso é imperdoável.
Se estivesse vivo e não o censurassem, Raul poria a boca no trombone,
no rádio, na tv, no megafone e onde fosse possível falar. Com
certeza, ele não compactuaria com os
desmandos da "república do mensalão",
dos mensalinhos e de tantos pecados capitais que prejudicam o
nosso País.
Raul era irônico, crítico, satírico, autêntico. Ele metia o dedo
na ferida. Não via com bons olhos o comportamento duvidoso de
alguns “papas” da mídia e dos meios de comunicação
e principalmente a esperteza de alguns “artistas”
da MPB. Questionava com rigor os jabaculês e a imprensa chapa
branca, domada e dominada pelo “toma lá da cá” das
grandes multigravadoras.
Raul Seixas fez história, marcou presença. Desarranjou a comportada
orquestra oficial. Literalmente Raul “arrombou a festa”.
Provocou uma tsunami e um terremoto no morno panorama cultural
brasileiro dos anos 70 e 80. Raul Seixas transcendeu todos os
ritmos.
Está no mesmo nível de Elvis Presley, John Lennon e Bob Dylan
. É um monstro sagrado da arte e da criação. Tinha em suas raízes
a magia dos cantadores repentistas, dos poetas cordelistas e dos
mais autênticos representantes da cultura pop. Misturou Luís Gonzaga
e Jackson do Pandeiro com Beatles e Rolling Stones. Mesclou a
quintessência do rock, com o repente, o rap, xote-xaxado-baião,
num autêntico forrobodó eletrônico.
Raul profetizou a Nova Era, o novo tempo e
reavivou o Apocalipse com a suas transcendentais revelações de
mago e pensador revolucionário. Não é à toa, que Zé Ramalho, genial
trovador do Nordeste Brasileiro, sempre foi um admirador do mestre
Raulzito e um dos melhores intérpretes da poetimusical Raulseixista.
Raul é um dínamo, um íma, um vate que nos ilumina, com a sua verve
cabalística, alquímica, transformadora e magistral. Raul é pura
poesia.
É uma megaláxia que transnavega pelas plagas inifineternas dos
Multiversos. Evoé Raul Seixas...
Voltar